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domingo, 23 de agosto de 2009

A balada ...

Ontem a convite de dois amigos eu fui a uma Casa Noturna em São Paulo ou no termo mais jovial, fui numa “balada”.
Faziam-se mais ou menos dois anos da última vez que freqüentei este tipo de ambiente.
Confesso que eu estava empolgado. Mas talvez pelo motivo de por estes meses eu estar trabalhando muito e não ter muito tempo para o lazer pessoal. Acho que a balada me proporcionaria alguns momentos de prazer e descanso. Mas mais uma vez eu me iludi.
Após 15 minutos da nossa entrada no estabelecimento que por sinal possui uma ambientação bastante moderna remetendo a alusão ao gelo, minha sanidade foi chegando como uma foice e foi desmistificando todo aquele suposto prazer, e fez a figura do homem Maurílio congelar-se naquele momento.
Então resolvi caminhar pelo salão. Fiquei pensando que este choque poderia ser a maturidade dos meus 24 anos mas não era. O que pesava e acusava na minha mente eram os meus valores e ideais de vida.
Então parei em uma pilastra de frente para a pista de dança e comecei por horas a observar aqueles jovens. O sociólogo começava ali a refletir.
O ambiente era composto por adolescentes e jovens de 17 a 22 anos de idade de classe média alta, que por sinal, o público feminino era em maior proporção.
Extasiados pelo som da batida eletrônica, dançavam motivados pelas marcações da batida e não pela harmonia musical.
Este estilo na minha concepção trouxe para a nova geração o distanciamento entre homens e mulheres pelo prazer da dança e as sensações de conquistas e químicas pessoais.
Pulando e gesticulando movimentos com os braços e segurando copos ou garrafas long necks de bebidas nas mãos, dançam e dançavam a uma distância de mais ou menos 1 metro um do outro em proporções separadas por rodas de amigos ou de fronte para o DJ.
Aquela sensação gostosa de dançar colado em par entre homem e mulher, de conversar aos ouvidos, de respirar, de sentir o toque, de olhar nos olhos, de ser levado e levar pela harmonia e a poesia da música, foi realmente substituído nestes tempos modernos, o mesmo previsto por Chaplin.
Então fiquei observando o processo de conquista e os desejos das pessoas naquele lugar e cheguei as explicações Freudianas.
As pessoas são conduzidas e vivem no centro dos desejos sexuais da infância. O que estes adolescentes e jovens estão buscando na verdade, é a substituição dos desejos sexuais e afetivos que sentem pelos pais através da experimentação e encontro no outro.
A atração e a libido fazem com que quantifiquem experiências, que permitam suas loucuras e desejos, e assim, realizem suas fantasias. Fantasias reprimidas na infância. Assim trocam informações e experiências com os amigos sobre as sensações e momentos vividos com o outro, também em substituição e rompimento com a figura materna e paterna.
Por isso que nesta fase preferem o “Cala a boca e beija”, “Já chega beijando”, “Já chega passando a mão”...Porque esta é a fase da natureza humana de descobertas e experimentações sexuais reprimidas na infância e também de formação da pessoa.
Mas apesar desta natureza humana, os valores também mudaram. Quando eu digo valores não me refiro a moralismo ou dogmas, me refiro aos sentimentos bonitos ou o belo.
Hoje tudo gira em torno apenas do sexo. O avanço tecnológico, cultural e social está fazendo morrer os valores belos primitivos. Os homens e as mulheres se vêem como animais em cumprimento do prazer ao ato sexual e estão esquecendo-se dos sentimentos.
O troféu ou o reconhecimento do homem é o “Pegou Quantas” ? E se pegou é porque o sexo oposto permitiu o garanhão se consagrar.
Eu vejo a balada como uma compra de prazer por 5 horas, onde o homem e a mulher vão para satisfazer aquele instinto momentâneo.
Depois dali, vão para os seus lares e adormecendo esquecem o que se passou.
Além disso, é fácil observar que o tônico de coragem para quantificar ou sobreviver na balada são as bebidas alcoólicas. Grupos reúnem-se e compram garrafas de vodka com energético, pois o teor de álcool faz subir mais rápido anestesiando o medo. Também whiskys e dezenas de cervejas contribuem para o disfarce, pois “sãos’, não têem coragem de libertar suas loucuras e instintos selvagens para se aproximar do outro, não que isso seja uma regra.
Outra coisa interessante no ambiente são os “barmans” e “promoters” usando da suas influências na casa ou autoridade para satisfazerem seus desejos sexuais.
Conseguem despertar um vínculo de auto-ajuda entre os sexos em promessa de retorno ao local com regalias.
Enfim...
Ao longo da minha vida venho a cada dia aprendendo a olhar e a respeitar as individualidades das pessoas e também a buscar respostas para o mundo.

Mas congelei-me porque a minha individualidade é outra e diferente desta, e tudo que eu falo, leio e vivo, estaria morto ali naquele local e com aquelas pessoas, se eu me juntasse ao pensamento coletivo delas.

Minha opção é ficar com o meu poeta e gerente das Palavras.

“Ouça-me bem amor,
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó ...”
Cartola

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